24 agosto 2006

Nós artistas somos RESILIENTES?

Sacode a poeira!

A capacidade de superar as adversidades da vida e até tirar proveito delas não é um dom, mas uma qualidade de quem tem resiliência

Por Pamela Cristina Leme

É possível que você nunca tenha ouvido falar em resiliência, afinal a palavra é mesmo desconhecida - e seu conceito, ainda pouco estudado pela medicina. No entanto, todo mundo sabe muito bem o que ela quer dizer. Basta pensar em como algumas pessoas conseguem reunir forças para dar a chamada volta por cima nas adversidades da vida, enquanto outras demoram mais tempo ou simplesmente nunca encontram a superação dos problemas e ficam presas nas malhas da infelicidade e da angústia.
A forma como cada um lida com situações como a morte de uma pessoa querida, a separação dos pais, a traição de um parceiro, um assalto, um seqüestro, um abuso sexual, uma perseguição racial ou até mesmo a vida durante uma guerra ou diante de ameaças terroristas - para citar dois exemplos bastante atuais, é só lembrar das conseqüências dos conflitos entre Israel e Líbano para a população local, ou ainda na guerrilha urbana perpetuada pelo PCC em São Paulo - é o que determina o quanto cada pessoa é resiliente. A qualidade de seguir em frente e sair fortalecido de uma crise tem feito com que a medicina se interrogue sobre por que alguns são mais resistentes que outros; um terço da população mundial tem traços de resiliência.
De um lado, a biologia defende que cada ser humano é dotado de um potencial genético que o faz mais resiliente que os demais. Já a psicologia aposta na análise do histórico de vida (as relações familiares, o ambiente em que se cresceu e as situações enfrentadas por cada um, particularmente na infância). E tem ainda a sociologia, que busca explicação na cultura, nos rituais e nas tradições em que o indivíduo se insere, além da teologia, que acredita na necessidade do sofrimento como evolução espiritual. Mas o termo vem mesmo é da física. "Um exemplo bastante freqüente é o das fibras de náilon de um tapete, que se recuperam mesmo depois de serem pisadas ou amassadas", aponta a psiquiatra Alexandrina Meleiro, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Segundo a médica, especialistas em comportamento defendem que a resiliência não é inata e, nos últimos 20 anos, eles têm procurado demonstrar como a capacidade de sobreviver em meio a sucessivos problemas pode ser desenvolvida em qualquer época da vida. "Mas é importante lembrar que a resiliência não tem nada a ver com invulnerabilidade. Todos nós somos suscetíveis a alguma coisa", ressalta. O que se espera, portanto, não é perder a sensibilidade quanto às adversidades, mas buscar apoio para, como é dito no popular, fazer do limão uma limonada.

Manual da superação
· Ao aceitar a ajuda e o suporte de pessoas que se interessam por você, a resiliência se fortalece. A ajuda pode ser de psi­cólogo ou médico, por meio de terapia;
· Você não pode evitar que eventos muito estres­santes aconteçam, mas você pode mudar ­a forma de interpretá-los e de responder a esses eventos;
· Aceitar circunstâncias que não podem ser mudadas pode ajudá-lo a concentrar-se sobre as que você poderá alterar;
· Pergunte a si mesmo: "Existe alguma coisa que eu possa realizar para me ajudar no movimento para meus propósitos?" Pode ser: fazer ginástica; marcar aula particular para minha filha; falar com meu chefe;
· Aja em lugar de se afastar comple­ta­mente dos problemas, querendo que eles desapareçam;
· As pessoas podem aprender algo sobre si mesmas como resultado de suas lutas com perdas. Isso pode ajudá-las a lidar melhor com outras cir­cuns­tâncias negativas;
· Desenvolver confiança em sua habi­lidade para resolver problemas e valorizar seus instintos irá ajudá-lo a construir a resiliência;
· Evite exagerar os acontecimentos fora das devidas proporções. Experimente ver "o grande quadro" por trás e encontre o tamanho mais acer­tado do evento.
· Procure ver as coisas mais próximas do que você quer, em lugar de se preocupar com seus medos e receios;
· Manter os cuidados com você mesmo irá ajudá-lo na autopreservação. Ocupe sua mente e seu corpo, preparando-os para lidar com situações que requeiram resiliência. Fonte: "Criando Filhos Vitoriosos - Quando e como Promover a Resiliência" (Editora Atheneu), de Haim Grunspun

Enfrentar a realidade
Diversos valores pessoais, culturais e familiares contribuem para tornar uma pessoa mais forte. A confiança em si mesmo, a facilidade para buscar ajuda em momentos de necessidade, a sabedoria para ouvir opiniões diversas e discernir entre aquilo que vale ou não ser aproveitado, a curiosidade para conhecer outras histórias de superação, a desenvoltura para verbalizar os próprios sentimentos, a preservação de tradições e rituais de âmbito familiar, o apoio na religião, a boa interação social e familiar, ter filhos e até mesmo a luz solar, a prática de esportes e o não-uso de drogas são alguns dos fatores que contribuem para tornar alguém mais resiliente. Essas características, associadas a uma criação na infância que tenha perpetuado a autonomia, ajudam - e muito - na hora de lidar com os baixos da vida.A psicóloga e professora da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG) Maria Ângela Mattar Yunes sinaliza a importância de não adjetivar a resiliência. Para ela, se admitirmos que há pessoas resilientes, ou "mais resilientes", de alguma maneira estaremos sugerindo que há também pessoas não-resilientes ou "pouco resilientes". "Será que isso é pertinente?", ela questiona. "Sou adepta de uma visão de resiliência como fenômeno humano que se refere a sistemas e processos de adaptação das pessoas em situações de crises. Não me refiro à adaptação no sentido conformista, mas adaptação no sentido de movimento, de busca de bem-estar e de melhor qualidade de vida. Quem de nós não vive dificuldades e crises? Quem de nós não procura solucionar os problemas da melhor maneira possível (na ótica de cada pessoa)?", sugere.
O psiquiatra Geraldo Massaro, também membro do Hospital das Clínicas e autor do livro "Insegurança - Uma Pedra no Caminho da Felicidade" (Editora Gente), salienta que um traço comum nas pessoas resilientes é a tolerância a mudanças. "Eles dão tempo ao tempo e entendem que os imprevistos fazem parte do cotidiano e, por isso, não perdem o controle diante da primeira dificuldade", afirma. De acordo com o médico, pessoas resilientes conseguem planejar melhor o futuro e têm muita capacidade para se adaptar a situações inesperadas. Fatalismo e vitimização passam longe da vida delas. Por outro lado, os que sofrem da falta de resilência são impacientes, ficam angustiados antes mesmo da chegada da crise e se fecham a novas experiências.Com atributos como esses, o termo resilência acabou ganhando mais fama graças ao mundo corporativo - especialmente a partir da década de 90. Qual empresa não espera nos funcionários a habilidade para se adaptar aos novos (e sempre incertos) rumos do mercado? Nos Estados Unidos, a resiliência é considerada a terceira característica mais importante que um líder deve ter. Alexandrina conta que a postura rígida daqueles que não apresentam traços dessa qualidade pode gerar conseqüências tanto sociais, como emocionais e físicas. Em casos extremos, quem não supera os problemas pode perder o emprego, acabar com um casamento, se distanciar amigos,além de desenvolver quadros de ansiedade, depressão, pânico, alcoolismo e toxicomania, o que prejudica a imunidade do corpo e leva a doenças como a úlcera e o câncer.
Resiliência em 12 passos


Acaba de chegar às livrarias de todo país o livro "Mulher Vulnerável - 12 Qualidades para Desenvolver a Resiliência" (Editora Melhoramentos), da psicóloga americana Beth Miller. No título, uma espécie guia feminino para o autodesenvolvimento, ela explica como "a resiliência está para a alma assim como um bom colchão está para o corpo; ela dá suporte e nos ajuda a resistir à depressão".Segundo a autora, a capacidade de recuperação de uma crise tem doze qualidades que se inter-relacionam como raios de uma roda e funcionam como ferramentas preventivas. Cada uma dessas qualidades pode ser usada em momentos de dificuldade, mas é fundamental que elas sejam exercitadas em momentos de equilíbrio, para que a flexibilidade seja desenvolvida e fortalecida. E é isso que Miller explica ao narrar a história de diferentes mulheres que, literalmente, se superaram.
Fotos ilustrativas: GettyImages

http://www.msn.com.br/mulher/reportagemespecial/
http://www.guiadasemana.com.br/noticias.asp?ID=15&cd_news=18738&cd_city=&MSN=1 Guia da semana – Mulher - Sacode a poeira!!

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